Num dia de trabalho perfeitamente normal..
"TRIMMMMM"
- Alô?
-Estou! Manel?
-Sim Senhora!
-Foram ao esritório?
-Sim Senhora! Eu e o António!
-Ok, boa, e como está o gerador?
-O Gerador não veio Senhora! Só eu e o António!
oO
Durante um almoço num café..
-Olhe por favor, pode explicar o que tem a sandes de frango?
-Humm... sim... tem o próprio do frango..
-Ah ok, obrigada..
oO

"...Os meus pensamentos foram interrompidos por uma voz feminina e quase mecânica – Senhores passageiros, informamos que o Voo com destino a Maputo já se encontra pronto para embarque. Por favor dirijam-se à porta de embarque. Obrigada. – Não sei dizer se eram estas palavras exatas, na realidade já lá vão quase dois anos…"
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Nem tudo são rosas...
Já há algum tempo que não escrevo, por vezes até me esqueço que tenho um blog, e que o seu objectivo principal é dar a conhecer aos meus amigos como é viver em África.
Outra desvantagem são as vias de comunicação degradadas, é sempre necessário ter ou conhecer alguém que possa emprestar um carro 4x4 para viagens mais longas.
Pois, vai fazer 3 anos que estou por terras africanas, muitos acham que estou a viver o "african dream", outros pensam que sou maluca por ir viver para tão longe de Portugal. A verdade é que apesar de ter vindo para cá por um truque do destino, sempre me imaginei a passar uma temporada aqui. Nunca pensei vir tão nova, mas talvez num voluntariado ou missão por volta dos 30. Mas isso agora também não interessa, o que interessa é que estou em África e a fazer planos para ficar por muito mais tempo.
Para os poucos que não sabem, encontrei aqui a pessoa que me faz feliz, e vivemos juntos há cerca de dois anos. Cada vez tenho mais família a viver aqui e as perspectivas de voltar para Portugal estão cada vez mais distantes.
Bem, apesar de ter tido a oportunidade de ver e conviver com animais selvagens, estar quase sempre calor, as pessoas locais serem calorosas e bem dispostas, das praias maravilhosas que se fazem das melhores do mundo, das boas experiências de trabalho que tive até agora e da experiência cultural fantástica, nem tudo são rosas por aqui.
Caros, África não é para qualquer um. As rotinas começam bem cedo e o fim do dia laboral acaba bem tarde, todos os estrangeiros residentes dão o litro todos os dias, um problema de trabalho por aqui é um problema 10 vezes maior do que em outra parte do mundo, o tempo para o resolver é mais de o dobro do que em qualquer outro lado. Isto torna os dias cansativos e muitos chegam à exaustão preferindo voltar para Portugal. Por vezes dizem-me que tenho tanta sorte porque estou sempre a viajar e a conhecer sítios novos, bem na realidade isto passa-se aos fins de semana ou feriados, e tem de acontecer porque se não, vamos dar em malucos! Mesmo nas nossas férias, a escolha passa sempre por Portugal para aproveitar visitar os amigos e a família que lá continua. Viver no estrangeiro seja em que país for, tem estas desvantagens.
Em termos de bens primários, secundários e terçiarios, Mocambique ainda tem muito que pedalar, o que nos leva a outra desvantagem. Ter a comida que gostamos sempre em casa, e quando me refiro á que gostamos falo naqueles produtos essenciais para um português como o chouricinho, a morcelinha, o cozidinho, o bacalhau, as estrelitas ou chocapic para o pequeno almoço, o queijo para comer com tostas, o fiambre, etc, custa o dobro ou triplo porque é tudo importado e por vezes quando compramos já vem estragado e fora do prazo. Mesmo em termos de bens primários por vezes é difícil encontrar uma marca de qualidade.
Lojas de roupas com qualidade poucas há, na verdade contam-se pelas mãos as vezes que comprei roupa aqui. As lojas que apresentam alguma qualidade são caríssimas.
Arrendar uma casa numa zona segura e com condições custa no mínimo 1500usd com tendência a aumentar. As casas são todas muito desgastadas com cerca de 40 anos, com problemas de infiltrações, grades nas janelas, pequenas, problemas de canalização e por vezes com visitas de alguns animais indesejados.
O melhor mesmo é aproveitar as visitas a África do Sul para fazer compras.
Outra desvantagem são as vias de comunicação degradadas, é sempre necessário ter ou conhecer alguém que possa emprestar um carro 4x4 para viagens mais longas.
Claro que uma pessoa se habitua, o meu consumismo diminuiu drasticamente e já nem penso em comprar "futilidades" a não ser quando vou de fim de semana ou de férias. Os problemas da casa vão sendo negociados com o senhorio, e problemas de outros tipos vão se resolvendo de outras formas.
Onde eu quero chegar com esta conversa, é que é preciso estômago para viver por aqui, e algumas características como paciência, adaptação, calma, convicção, persistência e ambição são essenciais para tomar a decisão de se vir viver para cá. Sei que há muita gente que não se sente bem a viver em Portugal neste momento, devido á situação que se está a passar, e espero que se Moçambique for uma opção que venham com gosto e conhecimento. :)
Por outro lado, pelos outros posts que vou escrevendo podem ver o fantástico que é viver aqui!
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Um Diálogo Autoritário
-Boa tarde minha senhora.
-Boa tarde.
-A senhora não tem o cinto de segurança. Estou a pedir livrete e carta de condução.
-Sim senhor.
(enquanto tiro a carta da carteira)
- A senhora não tem o manifesto do carro...
-Ah espere! Deve estar por aqui...
(procuro o manisfesto na carteira dos documentos)
-É isto?
-Sim senhora, mas devia estar no vidro do carro..
-Ah, não sabia, pensei que podia ter aqui na carteira...
-Onde está a inspeção?
-Espere, vou ver se está aqui também... Sabe o carro não é meu, é do meu namorado, e ele está fora... Vou-lhe ligar a perguntar... (não atende) Deve estar sem rede, sabe como é.. Lá em cima as comunicações falham muito..
-Bem, a multa do cinto de segurança são 1000 meticais, da inspeção 6000 meticais, ainda tem o farol de trás fundido e não tem matricula na traseira do carro.. hummm.. (fazer contas)... quanto tem ai?
-Aqui não tenho nada... Passe a multa que eu depois vou lá pagar.
-Ohhhh a sério quanto tem ai?
-Já lhe disse que quero pagar a multa. Passe lá que depois dou ao meu namorado porque a culpa é dele.
-Mas a culpa de não ter o cinto é da senhora...
-Sim. Mas isso pago eu. Passe lá a multa.
-Vá, diga lá quanto tem ai.
-Vocês são uma comédia!
-Hehe! Então eu... não é?!
-Pois...Enfim...Deixe ver o que tenho aqui... Tenho 150 meticais.
-Ok, boa tarde. (enquanto mete o dinheiro ao bolso)
:) suspiro, suspiro, suspiro...
-Boa tarde.
-A senhora não tem o cinto de segurança. Estou a pedir livrete e carta de condução.
-Sim senhor.
(enquanto tiro a carta da carteira)
- A senhora não tem o manifesto do carro...
-Ah espere! Deve estar por aqui...
(procuro o manisfesto na carteira dos documentos)
-É isto?
-Sim senhora, mas devia estar no vidro do carro..
-Ah, não sabia, pensei que podia ter aqui na carteira...
-Onde está a inspeção?
-Espere, vou ver se está aqui também... Sabe o carro não é meu, é do meu namorado, e ele está fora... Vou-lhe ligar a perguntar... (não atende) Deve estar sem rede, sabe como é.. Lá em cima as comunicações falham muito..
-Bem, a multa do cinto de segurança são 1000 meticais, da inspeção 6000 meticais, ainda tem o farol de trás fundido e não tem matricula na traseira do carro.. hummm.. (fazer contas)... quanto tem ai?
-Aqui não tenho nada... Passe a multa que eu depois vou lá pagar.
-Ohhhh a sério quanto tem ai?
-Já lhe disse que quero pagar a multa. Passe lá que depois dou ao meu namorado porque a culpa é dele.
-Mas a culpa de não ter o cinto é da senhora...
-Sim. Mas isso pago eu. Passe lá a multa.
-Vá, diga lá quanto tem ai.
-Vocês são uma comédia!
-Hehe! Então eu... não é?!
-Pois...Enfim...Deixe ver o que tenho aqui... Tenho 150 meticais.
-Ok, boa tarde. (enquanto mete o dinheiro ao bolso)
:) suspiro, suspiro, suspiro...
quinta-feira, 10 de maio de 2012
10 000 Km
Vamos criando amizades ao longo da vida. Uns na primária,
outros no liceu, depois na faculdade, part-times, voluntariados, escuteiros, no
emprego, etc.
Dias maus, dias bons… Uns vão ficando, outros vão-se
afastando. Por diversos motivos. Os que ficam são os que nos consolam, que nos
fazem sorrir, que nos fazem companhia quando precisamos. Aquelas pessoas que
quando algo acontece, corremos para lhes contar o sucedido. Aquelas pessoas que
nos fazem sacrificar de algo para estar com elas. Não porque tem de ser, mas
porque não conseguimos viver pensando que essas pessoas estão mal.
Ao longo do tempo e com o aumento dos quilómetros de
distância vamos nos apercebendo de várias coisas…
Passámos de estar todos os dias, ou quase todos os dias, ou
mesmo algumas vezes por ano, a simplesmente não nos vermos durante um ou mais
anos.
Arrependo-me de todos aqueles dias em que preferi ficar em
casa a descansar por pensar que podia estar com as pessoas no dia seguinte.
Fico feliz por todos aqueles dias em que estive com vocês.
Agradeço todos os dias em que me escolheram como vossa companhia.
Não existe um único dia em que não pense nas pessoas que
deixei com saudades. Torna-se impossível manter o contacto diário. Contudo, as
pessoas essenciais não precisam desse contacto. Sei que não é por me esquecer
de enviar as bisbilhotices que vocês vão deixar de pensar em mim, e espero que
saibam que penso regularmente nos nossos momentos. As saudades apertam todos os
dias. Todos os dias gostava de pensar que podia estar com vocês, irmos passear,
ou só mesmo telefonar para dar m beijinho. Não é fácil. Não é possível. Nunca
deixarei de vos visitar, não prometo que sejam todos os anos, porque é
complicado principalmente pelo dinheiro que se gasta nas viagens. Mas prometo
que jamais vos esquecerei e que apesar da distância partilharei todos os
momentos da minha vida com vocês.
Passaram dois anos desde que os nossos destinos se separaram,
mas apesar de todas as dificuldades seremos amigos/as para sempre!
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
A MODA
Vou em direção ao armário a pensar já no que vou vestir. Por vezes penso no que vou vestir, no dia anterior. Todos os dias há uma guerra no meu quarto, entre as cores e os tamanhos, a textura e o contraste, sinto-me derrotada diariamente pela indecisão.
Finalmente chego a um consenso. Não porque decidi que era aquela roupa que queria vestir, mas porque desisto de lutar.
Sinto-me bem quando saio à rua. Foi aquela roupa que comprei, está ao meu gosto. Para mim é fundamental. Estar ao meu gosto.
Um tecido de várias cores, todas elas lembram África - verde, castanho, beije, azul-escuro,… Enrolado pela cintura, como se não tivessem onde o por mais, apenas para desenrascar. Os chinelos mais velhos que têm no armário. A primeira T-shirt que tiram da gaveta, como se o contraste não interessasse para nada. É assim a Moda da Mulher Moçambicana.
Para além de os estabelecimentos comerciais Internacionais serem o dobro ou triplo do preço, e os gostos Africanos serem diferentes dos gostos Europeus, apenas cerca de 20% da população (para não dizer menos) tem posses financeiras para poder gastar em modas e futilidades.
Chegamos então a uma conclusão. Em África não há dinheiro para a Moda. Ou se há, é apenas para uma população restrita e minoritária.
Basta olhar pela janela ou estar pouco tempo a observar a população, para duvidar desta conclusão. Na verdade, quem ama a Moda até pode fazer a sua própria roupa com os mais diversos materiais.
O que observo então?
De cinco em cinco minutos, passa por mim uma mulher Moçambicana. Em cada cinco minutos, uma mulher diferente. Estas mulheres fazem-me confusão. Uma confusão que se torna numa admiração ou veneração. Não por desejar ser uma destas mulheres. Mas pelos malabarismos que fazem com as cestas de fruta ou bidões de água, ou qualquer outra coisa pesada que tenham de transportar em cima da cabeça. Desde miúdas que se vêm a treinar com garrafões vazios. Na adolescência já transportam qualquer coisa. Em adultas torna-se um hábito diário.
Agora vamos imagina-las com uns sapatos altos, um top justo e uma minissaia… e com um cesto de 10 kg em cima da cabeça! Penso que para as minhas leitoras não preciso de dizer mais nada.
Para os leitores – bastavam cinco minutos para tropeçar em alguma pedra ou mesmo torcer um tornozelo. A fruta certamente que não continuava em cima da cabeça. Com o calor africano, e uma longa caminhada, um top justo é definitivamente uma peça a não usar. Porquê? Porque se cola ao corpo e o calor que já é insuportável torna-se insuportavelmente insuportável. Junta-se uma minissaia a uma queda no meio da rua e não vai dar bom resultado.
Mesmo que houvesse dinheiro para “Fashionizar” África, todas as peças ficariam no armário aguardando um dia de serem utilizadas. Um dia que pudessem ir a qualquer lado, de transporte e sem ter que carregar um acessório.
Sim, de tão vulgar de se ver, posso apelidar de acessório.
A Capulana, o tecido que falei á pouco utilizado pelas mulheres à cintura, na minha casa é utilizada como toalha de mesa e roupa desenhada por estilistas profissionais. Das mais bonitas que temos.

Finalmente chego a um consenso. Não porque decidi que era aquela roupa que queria vestir, mas porque desisto de lutar.
Sinto-me bem quando saio à rua. Foi aquela roupa que comprei, está ao meu gosto. Para mim é fundamental. Estar ao meu gosto.
Um tecido de várias cores, todas elas lembram África - verde, castanho, beije, azul-escuro,… Enrolado pela cintura, como se não tivessem onde o por mais, apenas para desenrascar. Os chinelos mais velhos que têm no armário. A primeira T-shirt que tiram da gaveta, como se o contraste não interessasse para nada. É assim a Moda da Mulher Moçambicana.
Para além de os estabelecimentos comerciais Internacionais serem o dobro ou triplo do preço, e os gostos Africanos serem diferentes dos gostos Europeus, apenas cerca de 20% da população (para não dizer menos) tem posses financeiras para poder gastar em modas e futilidades.
Chegamos então a uma conclusão. Em África não há dinheiro para a Moda. Ou se há, é apenas para uma população restrita e minoritária.
Basta olhar pela janela ou estar pouco tempo a observar a população, para duvidar desta conclusão. Na verdade, quem ama a Moda até pode fazer a sua própria roupa com os mais diversos materiais.
O que observo então?
De cinco em cinco minutos, passa por mim uma mulher Moçambicana. Em cada cinco minutos, uma mulher diferente. Estas mulheres fazem-me confusão. Uma confusão que se torna numa admiração ou veneração. Não por desejar ser uma destas mulheres. Mas pelos malabarismos que fazem com as cestas de fruta ou bidões de água, ou qualquer outra coisa pesada que tenham de transportar em cima da cabeça. Desde miúdas que se vêm a treinar com garrafões vazios. Na adolescência já transportam qualquer coisa. Em adultas torna-se um hábito diário.
Agora vamos imagina-las com uns sapatos altos, um top justo e uma minissaia… e com um cesto de 10 kg em cima da cabeça! Penso que para as minhas leitoras não preciso de dizer mais nada.
Para os leitores – bastavam cinco minutos para tropeçar em alguma pedra ou mesmo torcer um tornozelo. A fruta certamente que não continuava em cima da cabeça. Com o calor africano, e uma longa caminhada, um top justo é definitivamente uma peça a não usar. Porquê? Porque se cola ao corpo e o calor que já é insuportável torna-se insuportavelmente insuportável. Junta-se uma minissaia a uma queda no meio da rua e não vai dar bom resultado.
Mesmo que houvesse dinheiro para “Fashionizar” África, todas as peças ficariam no armário aguardando um dia de serem utilizadas. Um dia que pudessem ir a qualquer lado, de transporte e sem ter que carregar um acessório.
Sim, de tão vulgar de se ver, posso apelidar de acessório.
A Capulana, o tecido que falei á pouco utilizado pelas mulheres à cintura, na minha casa é utilizada como toalha de mesa e roupa desenhada por estilistas profissionais. Das mais bonitas que temos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
A Rotina de Maputo
Ouço um som pavoroso vindo da minha mesinha de cabeceira. Ainda a sonhar, tento perceber de onde vem o som e com um movimento já mecânico lanço o braço em direção ao barulho e desligo o alarme. Volto a aconchegar me na cama e recomeça o cenário. Novamente o barulho, o braço e o aconchego. Decido então que já está na hora de me levantar. Com os olhos ainda semifechados ponho um pé fora da cama e levanto-me. Percorro o corredor dos quartos, passando pela sala abro a janela para entrar o sol, e dirijo-me à cozinha. São 7h20 da madrugada, o sol já está em pleno céu, pronto para aquecer impiedosamente os solos secos, mas molhados das poças de água, derivadas das chuvas do dia anterior ou mesmo da falta de escoamento das estradas. Olho para cima do armário e dou um “olá” ao Elvis, uma jovem caturra que ainda não se habituou aos donos. Ponho o café a fazer e vou tomar um banho refrescante e dar tempo para arrefecer. Visto-me e vou buscar o café. Enquanto o bebo, fumo um cigarro e vejo as notícias de Portugal. Apesar de já não viver lá, será sempre o meu país de origem, e tenho uma curiosidade necessária em saber de tudo o que se passa por lá. Recebo uma chamada no telemóvel e saio de casa. A chamada é da boleia que me espera quase todos os dias na estrada em frente à minha casa. Para chegar à estrada percorro cerca de 5 metros. Uma curta caminhada que serve para dar os bons dias ao guarda, que passa a noite a vigiar o meu prédio.
Para chegar ao local de trabalho passamos por dois semáforos. O primeiro é logo no primeiro cruzamento da avenida onde fica a minha casa. O segundo é depois de umas voltas para a esquerda e para a direita. Demoramos cerca de 5 minutos a chegar, poderia ser menos, mas as condições das estradas não o permitem. Nesse segundo semáforo é quase certo que paramos. Talvez por ser uma rotina e o tempo que demoramos a lá chegar seja quase sempre o mesmo todos os dias. Ou talvez porque o semáforo está quase sempre com a luz a exigir aos condutores para parar. A verdade é que paramos. Na rua do semáforo pode-se ver umas barraquinhas de fruta e vegetais de um lado e do outro. Vende-se desde tomates e alfaces a mangas, maracujás, melancias, e variados frutos exóticos. As condições são as piores possíveis, são apenas tábuas de madeira e por vezes uma mistura de paus e canas, amarrados com cordas e panos de forma a parecer uma banca cheia de cores e cheiros.
Todos os dias olho para os senhores e as senhoras que ali vendem a fruta e imagino como seria a minha vida se fosse dona de uma daquelas barracas. Com certeza que seria pobre e vivia numa casita nos arredores do centro de Maputo. Uma casita com apenas uma divisão e feita de madeira ou de cimento. Com certeza que teria uma carrada de filhos para criar, porque não tinha posses para me proteger e provavelmente já teria arranjado um marido que me pudesse sustentar. Mas com certeza que seria feliz como eles. Por muito má que a vida seja, estão sempre com um sorriso na cara e olham para nós, mesmo sabendo que somos privilegiados, e dizem – Bom dia patrão!- ou – Bom dia mamã! – Mamã para eles é uma forma carinhosa de tratar as senhoras e patrão é patrão, como diz a música de Mc Roger, um local cantor.
Todos os dias penso na sorte que tenho.
Chegando ao local de trabalho estacionamos o carro à porta. De imediato vêm cerca de 3 rapazes moçambicanos, que passam os dias sentados à porta do nosso escritório, para pedir para lavar o carro. Se dissermos que sim, esboçam um sorriso como quem já ganhou o dia, se a previsão for chuva e dissermos que não vale a pena, pedem para ficar apenas a guardar o carro. Claro que não podemos rejeitar tal pedido, que tipo de pessoas seriamos se dissemos a uma pessoa que nem dinheiro tem para comer, que não pode vigiar o nosso carro. Não que haja roubos de carros em Maputo, é apenas uma maneira de receberem qualquer coisa, e que seja merecido.
Chegamos ao escritório e o primeiro pensamento é o de ligar o ar condicionado. A primeira sensação do primeiro sopro é talvez uma das melhores partes do dia.
Assim se passa um dia de trabalho, com uma hora de almoço pelo meio. Pela rotina o normal é comermos fora num restaurante ou café perto do escritório. Por vezes vamos a casa comer.
São 17h30 e está na hora de abandonar o local de trabalho. Pego no telefone e combino uma passagem por um café com alguns amigos. Encontramo-nos numa esplanada, as mais usuais são a “Surf” ou o “Dolce Vita”.
A surf é uma esplanada grande com uma vista fantástica para o mar e um grande parque para os mais pequenos, onde se podem ver os mini barcos de pescadores a passarem de um lado para o outro e alguns cargueiros bem longe dali, prontos para descarregarem os contentores mandados vir do estrangeiro.
O Dolce Vita é dos cafés mais “in’s” de Maputo. Onde normalmente se encontram as pessoas de estatuto mais alto.
Independentemente do local, as bebidas são as mesmas todos os dias, ou Laurentina ou 2M para quem bebe cerveja, e coca-cola ou sumo Natural para quem não bebe. Acompanhado sempre de caju ou chamussas de caril e frango. O caju, ou como os locais apelidam “castanha de caju”, é o fruto mais tipo de África, normalmente são acabados de queimar e servidos por meninos, cujo seu trabalho é único e exclusivamente vender o caju na rua. Do líquido que sai do fruto fazem licor de caju. Assim ganham a vida.
Após um fim de tarde bem passado, com uma companhia fantástica e muita cusquice, fica na hora de recolher para casa. Despedimo-nos com um “até amanhã” e recolhemos.
Chegando a casa e depois de dar um “refresco” ao guarda, há ainda muita coisa para fazer, desde o jantar, preparar algumas coisas para o dia seguinte, concertar as pequenas coisas que vão avariando constantemente no dia-a-dia, principalmente os eletrodomésticos, por vezes comprar pão e algumas grosserias e ainda falar com a família e amigos que se encontram a dez mil quilómetros de distância.
Um dia normal.
Para chegar ao local de trabalho passamos por dois semáforos. O primeiro é logo no primeiro cruzamento da avenida onde fica a minha casa. O segundo é depois de umas voltas para a esquerda e para a direita. Demoramos cerca de 5 minutos a chegar, poderia ser menos, mas as condições das estradas não o permitem. Nesse segundo semáforo é quase certo que paramos. Talvez por ser uma rotina e o tempo que demoramos a lá chegar seja quase sempre o mesmo todos os dias. Ou talvez porque o semáforo está quase sempre com a luz a exigir aos condutores para parar. A verdade é que paramos. Na rua do semáforo pode-se ver umas barraquinhas de fruta e vegetais de um lado e do outro. Vende-se desde tomates e alfaces a mangas, maracujás, melancias, e variados frutos exóticos. As condições são as piores possíveis, são apenas tábuas de madeira e por vezes uma mistura de paus e canas, amarrados com cordas e panos de forma a parecer uma banca cheia de cores e cheiros.
Todos os dias olho para os senhores e as senhoras que ali vendem a fruta e imagino como seria a minha vida se fosse dona de uma daquelas barracas. Com certeza que seria pobre e vivia numa casita nos arredores do centro de Maputo. Uma casita com apenas uma divisão e feita de madeira ou de cimento. Com certeza que teria uma carrada de filhos para criar, porque não tinha posses para me proteger e provavelmente já teria arranjado um marido que me pudesse sustentar. Mas com certeza que seria feliz como eles. Por muito má que a vida seja, estão sempre com um sorriso na cara e olham para nós, mesmo sabendo que somos privilegiados, e dizem – Bom dia patrão!- ou – Bom dia mamã! – Mamã para eles é uma forma carinhosa de tratar as senhoras e patrão é patrão, como diz a música de Mc Roger, um local cantor.
Todos os dias penso na sorte que tenho.
Chegando ao local de trabalho estacionamos o carro à porta. De imediato vêm cerca de 3 rapazes moçambicanos, que passam os dias sentados à porta do nosso escritório, para pedir para lavar o carro. Se dissermos que sim, esboçam um sorriso como quem já ganhou o dia, se a previsão for chuva e dissermos que não vale a pena, pedem para ficar apenas a guardar o carro. Claro que não podemos rejeitar tal pedido, que tipo de pessoas seriamos se dissemos a uma pessoa que nem dinheiro tem para comer, que não pode vigiar o nosso carro. Não que haja roubos de carros em Maputo, é apenas uma maneira de receberem qualquer coisa, e que seja merecido.
Chegamos ao escritório e o primeiro pensamento é o de ligar o ar condicionado. A primeira sensação do primeiro sopro é talvez uma das melhores partes do dia.
Assim se passa um dia de trabalho, com uma hora de almoço pelo meio. Pela rotina o normal é comermos fora num restaurante ou café perto do escritório. Por vezes vamos a casa comer.
São 17h30 e está na hora de abandonar o local de trabalho. Pego no telefone e combino uma passagem por um café com alguns amigos. Encontramo-nos numa esplanada, as mais usuais são a “Surf” ou o “Dolce Vita”.
A surf é uma esplanada grande com uma vista fantástica para o mar e um grande parque para os mais pequenos, onde se podem ver os mini barcos de pescadores a passarem de um lado para o outro e alguns cargueiros bem longe dali, prontos para descarregarem os contentores mandados vir do estrangeiro.
O Dolce Vita é dos cafés mais “in’s” de Maputo. Onde normalmente se encontram as pessoas de estatuto mais alto.
Independentemente do local, as bebidas são as mesmas todos os dias, ou Laurentina ou 2M para quem bebe cerveja, e coca-cola ou sumo Natural para quem não bebe. Acompanhado sempre de caju ou chamussas de caril e frango. O caju, ou como os locais apelidam “castanha de caju”, é o fruto mais tipo de África, normalmente são acabados de queimar e servidos por meninos, cujo seu trabalho é único e exclusivamente vender o caju na rua. Do líquido que sai do fruto fazem licor de caju. Assim ganham a vida.
Após um fim de tarde bem passado, com uma companhia fantástica e muita cusquice, fica na hora de recolher para casa. Despedimo-nos com um “até amanhã” e recolhemos.
Chegando a casa e depois de dar um “refresco” ao guarda, há ainda muita coisa para fazer, desde o jantar, preparar algumas coisas para o dia seguinte, concertar as pequenas coisas que vão avariando constantemente no dia-a-dia, principalmente os eletrodomésticos, por vezes comprar pão e algumas grosserias e ainda falar com a família e amigos que se encontram a dez mil quilómetros de distância.
Um dia normal.
Introdução ao Blog
Eram 9 da manhã, num dia de férias, o sol brilhava como era costume naqueles dias de Verão. Não tinha nada para fazer de importante, tinha apenas de aproveitar as férias, excetuo talvez um pensamento que me tinha atormentado a noite toda - Tenho voo às 6 da tarde!- já tinha feito a mala. Não apressadamente, quer dizer, talvez um pouco à pressa pois tudo o que tinha de levar não era apenas para um dia, nem uma semana, nem um mês, eram os meus planos para uma vida! A noticia foi me dada 4 dias antes da viagem.
6h da tarde do mesmo dia, o sol já se escondia atrás dos prédios de Lisboa. A sala de embarque parecia não ter oxigénio, custava a respirar. Não porque não tivesse janelas ou falta de ar, mas pelo nó na garganta que tinha, pelas borboletas na barriga e pelo aperto no coração das saudades que já tinha de Portugal. Sabia que ia voltar um dia, mas naquele momento não pensava em mais nada se não nos meus amigos, na minha irmã e na família que restava em Portugal que iria deixar para trás.
Os meus pensamentos foram interrompidos por uma voz feminina e quase mecânica – Senhores passageiros, informamos que o Voo com destino a Maputo já se encontra pronto para embarque. Por favor dirijam-se à porta de embarque. Obrigada. – Não sei dizer se eram estas palavras exatas, na realidade já lá vão quase dois anos…
6h da tarde do mesmo dia, o sol já se escondia atrás dos prédios de Lisboa. A sala de embarque parecia não ter oxigénio, custava a respirar. Não porque não tivesse janelas ou falta de ar, mas pelo nó na garganta que tinha, pelas borboletas na barriga e pelo aperto no coração das saudades que já tinha de Portugal. Sabia que ia voltar um dia, mas naquele momento não pensava em mais nada se não nos meus amigos, na minha irmã e na família que restava em Portugal que iria deixar para trás.
Os meus pensamentos foram interrompidos por uma voz feminina e quase mecânica – Senhores passageiros, informamos que o Voo com destino a Maputo já se encontra pronto para embarque. Por favor dirijam-se à porta de embarque. Obrigada. – Não sei dizer se eram estas palavras exatas, na realidade já lá vão quase dois anos…
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