A VIDA que não interessa a ninguém...

"...Os meus pensamentos foram interrompidos por uma voz feminina e quase mecânica – Senhores passageiros, informamos que o Voo com destino a Maputo já se encontra pronto para embarque. Por favor dirijam-se à porta de embarque. Obrigada. – Não sei dizer se eram estas palavras exatas, na realidade já lá vão quase dois anos…"

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A MODA

Vou em direção ao armário a pensar já no que vou vestir. Por vezes penso no que vou vestir, no dia anterior. Todos os dias há uma guerra no meu quarto, entre as cores e os tamanhos, a textura e o contraste, sinto-me derrotada diariamente pela indecisão.

Finalmente chego a um consenso. Não porque decidi que era aquela roupa que queria vestir, mas porque desisto de lutar.

Sinto-me bem quando saio à rua. Foi aquela roupa que comprei, está ao meu gosto. Para mim é fundamental. Estar ao meu gosto.

Um tecido de várias cores, todas elas lembram África - verde, castanho, beije, azul-escuro,… Enrolado pela cintura, como se não tivessem onde o por mais, apenas para desenrascar. Os chinelos mais velhos que têm no armário. A primeira T-shirt que tiram da gaveta, como se o contraste não interessasse para nada. É assim a Moda da Mulher Moçambicana.

Para além de os estabelecimentos comerciais Internacionais serem o dobro ou triplo do preço, e os gostos Africanos serem diferentes dos gostos Europeus, apenas cerca de 20% da população (para não dizer menos) tem posses financeiras para poder gastar em modas e futilidades.

Chegamos então a uma conclusão. Em África não há dinheiro para a Moda. Ou se há, é apenas para uma população restrita e minoritária.

Basta olhar pela janela ou estar pouco tempo a observar a população, para duvidar desta conclusão. Na verdade, quem ama a Moda até pode fazer a sua própria roupa com os mais diversos materiais.

O que observo então?

De cinco em cinco minutos, passa por mim uma mulher Moçambicana. Em cada cinco minutos, uma mulher diferente. Estas mulheres fazem-me confusão. Uma confusão que se torna numa admiração ou veneração. Não por desejar ser uma destas mulheres. Mas pelos malabarismos que fazem com as cestas de fruta ou bidões de água, ou qualquer outra coisa pesada que tenham de transportar em cima da cabeça. Desde miúdas que se vêm a treinar com garrafões vazios. Na adolescência já transportam qualquer coisa. Em adultas torna-se um hábito diário.

Agora vamos imagina-las com uns sapatos altos, um top justo e uma minissaia… e com um cesto de 10 kg em cima da cabeça! Penso que para as minhas leitoras não preciso de dizer mais nada.

Para os leitores – bastavam cinco minutos para tropeçar em alguma pedra ou mesmo torcer um tornozelo. A fruta certamente que não continuava em cima da cabeça. Com o calor africano, e uma longa caminhada, um top justo é definitivamente uma peça a não usar. Porquê? Porque se cola ao corpo e o calor que já é insuportável torna-se insuportavelmente insuportável. Junta-se uma minissaia a uma queda no meio da rua e não vai dar bom resultado.

Mesmo que houvesse dinheiro para “Fashionizar” África, todas as peças ficariam no armário aguardando um dia de serem utilizadas. Um dia que pudessem ir a qualquer lado, de transporte e sem ter que carregar um acessório.

Sim, de tão vulgar de se ver, posso apelidar de acessório.

A Capulana, o tecido que falei á pouco utilizado pelas mulheres à cintura, na minha casa é utilizada como toalha de mesa e roupa desenhada por estilistas profissionais. Das mais bonitas que temos.